A CLINICA PSICANALÍTICA NA SAÚDE PÚBLICA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Nesse post veremos um pouco mais sobre algumas práticas da Psicanálise nos meios de saúde pública, a sua importância no contexto brasileiro e os desafios encontrados diariamente para se adequar a novos métodos de análise e diagnóticos eficientes, indo de encontro a métodos psiquiátricos convencionais. Leia até o final e participe deixando o seu comentário!

INTRODUÇÃO

A partir da reforma sanitária, na década de 1970, e da criação do Sistema Único de Saúde – SUS, em 1988, os serviços ambulatoriais foram fortalecidos no Brasil. Constituídos por equipes interdisciplinares, a presença do psicanalista neles é cada vez mais comum. Diante desse contexto, este post tem como objetivo central os impasses que ocorrem entre a psicanálise e as equipes dos ambulatórios médicos. Trata-se de um trabalho teórico, cujas fontes foram as produções bibliográficas a respeito do tema. Destaca-se que, apesar dos entraves e constantes desafios aos quais é submetida, a prática psicanalítica é plenamente viável e efetiva nos ambulatórios públicos brasileiros.

A atuação do psicanalista é muito relevante hoje em dia, tanto na saúde pública quanto nas clínicas privadas, além de se fazer presente em todos os níveis de assistência do SUS (Sistema Único de Saúde): na primária (junto aos postos de saúde), na secundária (através de policlínicas e ambulatórios) e na terciária (complexos hospitalares). Mas, como a função de psicanalista ainda não é regulamentada pelo estado, a presença desse profissional nos serviços públicos se deve às conquistas da Psicologia como profissão.

SURGIMENTO DA PSICOLOGIA NA SAÚDE

A crescente insatisfação com a medicina praticada foi um forte fator que contribuiu para o surgimento das práticas psicanalíticas na saúde pública. Sua motivação se faz principalmente nas dificuldades de englobar uma nova epidemiologia que incorpore fatores psicológicossociais e econômicos e deve-se também ao desenvolvimento das terapias psicológicas focadas em queixas físicas, provando que o duelismo cartesiano mente/corpo deveria ser reexaminado.

Aqui no Brasil, a participação de um profissional psicólogo na área de saúde se iniciou na década de 70, mediante uma ação mais ampla nos cuidados primários. Desde então, esses cuidados que eram restritos à ação médica, passam a contar com a participação da Psicologia e do Serviço Social. Essa inserção originou-se de um movimento mais geral, a reforma sanitária, concretizando-se no movimento dos psicólogos através de associações de classe. Essas reinvidicações decorrem do entendimento de que o atendimento clínico psicológico não seria apenas de caráter curativo, mas também abrangendo ações preventivas e de promoção de saúde.

A inserção do Psicanalista nos serviços públicos de saúde ocorreu paralelamente a um movimento dentro da Psicologia (com o desenvolvimento da psicologia social comunitária), introduzindo-a em territórios que antes eram só de uma determinada disciplina em específico, novas concepções passaram a integrar a Psicanálise Clínica, como o caráter global de saúde e a necessidade de trabalhos interdisciplinares no cuidado da população e das comunidades.

DESAFIOS

 Um dos desafios da Psicologia, englobando a psicanálise, é mesclar o aspecto político em atuação com a saúde pública. Práticas mais conectadas aos aspectos políticos e sociais têm revelado resultados satisfatórios nos diversos níveis de atenção de saúde pública, embora ainda exista a predominância da medicina, que tende a estabelecer um ambiente mais acolhedor às correntes psicológicas que melhor respondam as suas demandas.

Em 2006 aconteceu o primeiro fórum nacional sobre Psicologia e Saúde Pública. Lá foi debatido o desafio da ampliação da presença da Psicologia e Psicanálise na saúde pública, já que estas teriam como vocação a promoção do bem estar e a ampliação da qualidade de vida dos indivíduos, coletivos e instituições. Diante do Plano Nacional de Humanização, a Psicologia, quando se trata da sua inserção no campo da saúde pública, precisaria operar uma série de enfrentamentos relativos a base conceitual e ao repertório de práticas que são próprias.

A psicanálise no Brasil, esteve vinculada com a psiquiatria até a metade do século passado. O afastamento dessas vertentes se deu no momento em que a invenção de Freud deixou de ser entendida como uma técnica terapêutica da psiquiatria e passou a constituir um novo tipo de abordagem da doença mental, com características distintas.

A ENTRADA DA PSICANÁLISE NA SAÚDE PÚBLICA

 Na Saúde Pública, a entrada da psicanálise aconteceu através do profissional psicólogo, que ainda é comum nos dias de hoje, pois não existem nos quadros funcionais o cargo de psicanalista.

psicanálise enfrenta desafios distintos, antes de tudo porque não pretende primariamente ampliar a qualidade de vida dos indivíduos, mas proporcionar uma escuta diferenciada a quem está em sofrimento. Freud previu essa presença da psicanálise em ambulatórios públicos, ao sustentar que, em algum momento, a sociedade iria despertar para a necessidade de oferecer escuta analítica a toda a população, independente da sua classe econômica e social. Ele mesmo chegou a propor a criação de instituições gratuitas compostas por analistas visando atendimento aos pacientes sem condições de bancá-los em uma clínica privada.

Os ambulatórios públicos brasileiros são diferentes em dois aspectos fundamentais da conjectura de Freud sobre o futuro. Em primeiro lugar: as instituições são constituídas por equipes interdisciplinares e não somente por analistas. Em segundo lugar: as equipes que são marcadas pelos discursos médicos, tendem a preferir terapias psicológicas focadas no ajuste de comportamentos e emoções do paciente, para que este responda de maneira adequada ao tratamento médico que estiver sendo submetido.

Assim como na época de Freud, a psicanálise ainda difere de maneira radical do discurso dominante nessas instituições, marcando um ponto de resistência à concepção do paciente como passivo, alienado e desprovido de qualquer saber referente a si próprio.

COLOCANDO EM PRÁTICA O TRABALHO PSICANALÍTICO NA SAÚDE

Distante de outras abordagens psicoterápicas, o trabalho analítico não tem como foco os efeitos terapêuticos. Estes são inegáveis e geralmente não demoram a aparecer, mas de maneira alguma é o objetivo do tratamento analítico, isso porque a psicanálise não visa normalizar o sujeito ou adequá-lo à realidade, por entender que essa é uma tarefa impossível.

psicoterapia explora e exalta a dimensão imperativa do significante, já a psicanálise visa reduzi-la. Em outras palavras, a psicoterapia reproduz o discurso do mestre, o discurso de que há um representante do saber, sendo ocupado na maioria das vezes por médicos e outros profissionais de saúde, definindo o melhor caminho para o paciente, colocando-o no lugar do desconhecimento.

O Psicanalista se recusa a fazer esse jogo. O significante-mestre que o analista quer sustentar é o do sintoma do sujeito. Com isso, ele pode formular as condições de uma psicanálise aplicada a terapêutica que não se relacione em nada com a psicoterapia. Uma instituição é orientada por um significante-mestre da civilização: no caso do ambulatório, o saber médico. Logo, uma vez dentro desse conjunto, o psicanalista não deve se impor, se opor ou se colocar a serviço do mestre, mas sim da instituição.

Realizar esse tipo de trabalho nas instituições não é fácil, já que o psicanalista se vê confrontado com pacientes cuja demanda já está modulada pelo efeito de um discurso medicalizado, ou seja, uma demanda que se endereça ao saber médico: o sujeito dirige-se ao ambulatório crendo que será atentido por vários doutores, por isso é comum sentir-se confuso quando descobre que o psicanalista não medica conversa.

Uma vez inserido no ambulatório, ou em qualquer outro campo institucional, o psicanalista tem a sua prática atingida pelos valores contemporâneos. Apesar dos pacientes de hospitais públicos possuírem baixo nível cultural, sérios problemas econômicos e ser atravessado pelos ideais contemporâneos de medicalização do sofrimento e por terapias breves para supressão dos sintomas, a presença do discurso analítico cria a demanda de uma escuta analítica em muitos pacientes. É nesse fato que a psicanálise se apoia para afirmar a sua importância nos tempos atuais.

A inconsistência dos efeitos terapêuticos promovidos pelas medicações psicotrópicas e o alto índice de incidência das novas formas de adoecer (depressãoansiedadesíndrome do pânico) mostram que os ideais contemporâneos não sustentam o discurso que buscam se promover. É nessa situação que a psicanálise se revigora, tornando-se imprescindível como ponto de limite a esse discurso.

CONCLUSÃO

psicanálise, sendo uma ciência que os primórdios diziam ser uma prática somente clínica, hoje abrange um espaço muito maior, podendo já ser identificada em: escolashospitais e postos de saúde, não fazendo com que a mesma diminua sua importância e que mostre sua teoria e sua técnica nesses novos locais, aos quais está se inserindo gradativamente. Contudo, acredita-se que foi possível por meio da presente pesquisa, levantar a possibilidade de se trabalhar com a linha psicanalítica na saúde pública, bem como, visualizar os desafios e possibilidades ainda presente neste campo de atuação a partir da referida linha teórica.

A psicanálise não vai salvar a sociedade, ou a instituição de saúde, mas também não será devorada por esse discurso que tenta invalidar a sua importância e promover o uso de medicamentos psicotrópicos, ela se torna cada dia mais necessária e mostra que as práticas que ela traz para utilização nos meios públicos de saúde se mostram humanitárias, necesárias e apresentam resultados cada vez mais contundentes.

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